Inovação disruptiva impulsiona a evolução dos negócios e exige que as empresas estejam dispostas a se adaptar e encontrar novas abordagens
Ao longo dos anos, tenho testemunhado como a inovação, especialmente a disruptiva, tem transformado nossa sociedade. Empresas que não se reinventam, tornam-se obsoletas, perdendo destaque e cedendo espaço para novas organizações.
A primeira vez que tomei literalmente um “choque” quanto a necessidade de vivermos a inovação disruptiva no nosso dia a dia foi quanto meu Mestre e Professor Peter Drucker nos disse em sala de aula: “precisamos lançar nossos produtos hoje e começar a matá-los amanhã”. Eu disse para mim mesmo, mas como assim? Meses, às vezes anos de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) para isso?
Naquele momento entendi o conceito de inovação. Sejamos nós mesmos os destruidores de nossas criações, criando novas e melhoradas versões. Caso contrário, nosso concorrente inevitavelmente o fará, ganhando nossa fatia de mercado e um público-alvo por nós já “educado” com a solução proposta – às vezes às custas de nossos investimentos em tempo e capital para abrir determinado mercado.
Afinal, todo início é o fim de algum começo.
A inovação disruptiva impulsiona a evolução dos negócios e exige que as empresas estejam dispostas a se adaptar e encontrar novas abordagens para atender às necessidades dos consumidores. A capacidade de reinvenção é crucial para se manter relevante. Vivemos em um mundo onde a única certeza é a mudança.
JOSEPH SCHUMPETER E A TEORIA DA DESTRUIÇÃO CRIATIVA
Schumpeter, renomado economista e cientista social austríaco, é amplamente reconhecido por suas contribuições teóricas no campo da economia e inovação. Em 1942, propôs a teoria da “Destruição Criativa” em seu livro “Capitalismo, Socialismo e Democracia”.
Tal teoria descreve o papel crucial da inovação no processo de desenvolvimento econômico. Segundo Schumpeter, as economias passam por ciclos de crescimento e transformação impulsionados pela introdução de inovações disruptivas. Estas não apenas criam novos produtos, processos e mercados, mas também destroem antigos modelos de negócios e estruturas econômicas, levando a um constante processo de mudança e renovação.
Esse conceito desempenha um papel essencial no desenvolvimento da sociedade, incentivando todos nós a nos tornarmos empreendedores e agentes da inovação. Ele implica na destruição do antigo, na superação de valores obsoletos, na inovação disruptiva que quebra monopólios e altera o equilíbrio estabelecido. Concluindo, essas mudanças no equilíbrio são essenciais para impulsionar o crescimento da sociedade e a Destruição Criativa é um impulso fundamental para o motor do desenvolvimento econômico do mundo capitalista.
Devemos constantemente desafiar o status quo, pois é nesse desafio que encontramos oportunidades de crescimento. Como disse o próprio economista, “Nada é tão traiçoeiro como o óbvio”, destacando a importância de não subestimar as mudanças e as possibilidades que a inovação disruptiva pode trazer.
CLAYTON M. CHRISTENSEN E A TEORIA DA INOVAÇÃO DISRUPTIVA
Clayton Christensen, renomado autor, acadêmico de Harvard e consultor de gestão, é amplamente reconhecido por suas contribuições e teorias no campo da inovação disruptiva. O autor desenvolveu e popularizou a teoria da Inovação Disruptiva ao longo da década de 1990. Sua obra pioneira sobre o tema, “O Dilema da Inovação” (The Innovator’s Dilemma), foi publicada em 1997.
Inovação disruptiva refere-se a uma nova tecnologia, produto ou serviço que “quebra” um mercado estabelecido e a tecnologia existente, substituindo-os por algo novo, geralmente mais eficiente e eficaz.
Este tipo de inovação normalmente começa em um nicho específico de mercado e inicialmente pode não ser vista como uma ameaça por empresas estabelecidas. No entanto, à medida que ganha popularidade e aceitação do mercado, começa a desafiar e eventualmente deslocar as tecnologias ou práticas existentes.
A teoria argumenta que as empresas estabelecidas podem ser superadas por inovações disruptivas que surgem de forma modesta, muitas vezes em mercados de nicho e com produtos ou serviços inferiores em termos de qualidade e desempenho. Ao longo do tempo, essas inovações melhoram e ganham mercado, eventualmente substituindo as soluções existentes e transformando indústrias inteiras.
É importante compreender que a inovação vai além de simplesmente introduzir novidades.
Ela implica em:
- ter diferencial estratégico;
- criar valor;
- explorar novas ideias;
- atender às necessidades do mercado e
- aumentar a competitividade.
Nesse contexto, o princípio da inovação disruptiva desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da sociedade, dando origem a conceitos como Market Kill e Market Shift. Esses princípios, criados por mim, refletem o impacto transformador da inovação disruptiva, que pode levar ao declínio de empresas e setores estabelecidos (Market Kill) e ao surgimento de novos mercados, modelos de negócios e players de mercado (Market Shift).
MARKET KILL – MARKET SHIFT
Levando tudo isso em consideração, desenvolvi os conceitos de Market Kill e Market Shift. As empresas que não se adaptam às inovações e às demandas de seus clientes enfrentam o risco de desaparecerem, sofrendo o chamado Market Kill.
Nesse momento, surge o conceito de Market Shift, quando a organização em questão é superada por novas empresas e tecnologias emergentes que entram no mercado, tornando-a obsoleta.
Aqui estão alguns exemplos ilustrativos de Market Kill e Market Shift:
- KODAK – Market Kill
A Kodak, fundada em 1888, é uma empresa americana de tecnologia e imagem que teve um longo histórico de liderança na indústria fotográfica. No entanto, enfrentou desafios devido à evolução tecnológica e às mudanças no mercado.
Sua participação de mercado diminuiu com o surgimento de câmeras digitais e smartphones avançados. Após um processo de reestruturação em 2012, a empresa concentrou-se em segmentos específicos, como impressão comercial e serviços relacionados à imagem.
A Kodak não se deu conta que no fundo estava no negócio de eternizar momentos, independentemente da mídia a ser utilizada, e não no de produção de filmes fotográficos. O modelo “filme fotográfico” era somente a forma de resolver o problema de seus clientes, mas não era o problema a ser resolvido propriamente dito.
Esta falta de visão estratégica acabou resultando em sua queda, sendo um exemplo clássico de como a inovação disruptiva pode gerar o Market Kill. Ao implementar soluções que não resolviam o problema central dos consumidores, a empresa perdeu relevância e foi ultrapassada por concorrentes que se adaptaram às novas tendências e necessidades do mercado.
- BLACKBERRY – Market Kill
A BlackBerry é uma empresa canadense de tecnologia de telecomunicações, conhecida por seus dispositivos móveis e serviços corporativos. Durante seu auge, foi uma das principais empresas de smartphones do mundo. No entanto, nos últimos anos, enfrentou desafios significativos em relação à sua participação de mercado, devido à concorrência de sistemas operacionais como iOS e Android.
As empresas de aparelhos como ela não conseguiram inovar e se adaptar às mudanças tecnológicas constantes. Isso pode ser atribuído, em parte, à influência do conceito de inovação disruptiva de Christensen, que evoluiu a partir da teoria da destruição criativa de Schumpeter. Esse princípio enfatiza a importância das empresas estarem atentas às mudanças tecnológicas e às necessidades dos clientes, adaptando-se constantemente para permanecerem competitivas.
Dentro do universo das companhias telefônicas, um exemplo similar ao da BlackBerry é o de que no ano de 2007, as companhias de aparelhos de telefones celulares Nokia, Samsung, Motorola, LG e Sony Ericsson detinham 90% do mercado, desfrutando de uma posição totalmente dominante e incontestável.
- APPLE – Market Shift
No entanto, as empresas mencionadas anteriormente, que possuíam presença dominante no setor, não se adaptaram às mudanças do cenário tecnológico, perdendo espaço para a nova entrante no mercado, a Apple. Esta inovou de maneira disruptiva, fazendo com que as companhias telefônicas precedentes enfrentassem o Market Kill. A partir deste movimento ocorreu o Market Shift, e apenas 8 anos depois, em 2015, a Apple emergiu como líder do ramo, detendo cerca de 92% do mercado.
O sucesso da empresa pode ser atribuído ao fato de que a esta se concentrou em resolver os problemas dos usuários e fornecer inúmeras ferramentas e recursos através de um único dispositivo. Ela compreendeu a importância de oferecer uma experiência integrada e conveniente aos consumidores, combinando hardware, software e serviços em seus dispositivos.
Não inovar mata?
No mundo dos negócios, é essencial compreender que o sucesso de hoje não garante o sucesso de amanhã – especialmente quando se trata de implementar soluções sem resolver problemas reais, pelo menos do ponto de vista de quem nos faz existir como empresa: o CLIENTE.
Nas últimas décadas, o tempo de vida das empresas tem diminuído significativamente. Em 1975, as 500 maiores empresas americanas (S&P 500 Index) tinham uma média de vida de 37 anos. Porém, ao longo dos 25 anos seguintes, esse tempo diminuiu para 15 anos.
Em 2015, o tempo médio de vida das empresas aumentou para 23 anos, mas ainda assim representou uma queda de 38% em relação a 1975, 40 anos antes. Isso mostra que as empresas não estão perdendo mercado e deixando de existir por serem ruins, mas sim porque não se adaptam às inovações disruptivas que nascem para atender às novas demandas.
Esses dados destacam a importância das empresas estarem preparadas para os desafios de um mercado em constante evolução. Compreender as demandas dos consumidores e as transformações do ambiente de negócios é fundamental. As empresas devem estar dispostas a inovar, antecipar as mudanças e adaptar-se rapidamente para garantir seu sucesso a longo prazo, estando sempre atentas ao possível Market Shift que possam vir a sofrer. Aquelas que não conseguem acompanhar as transformações correm o risco de serem superadas pela concorrência e pelos avanços tecnológicos, sofrendo assim o Market Kill.