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Não existe mais marketing

Toda vez que digo “Antigamente”, me sinto como o tio da propaganda da Sukita, mas, na falta de expressão que funcione melhor para ilustrar o que vamos conversar hoje, vai essa mesmo. Antigamente o marketing era diferente, lembra?

As propagandas, principalmente as impressas, tinham um tipo diferente de pegada, vamos chamar de pegada, mas era algo como um assovio. Apesar de a gente saber que eram empresas tentando vender alguma coisa, não nos sentíamos enganados por elas, como se estivessem, na verdade, tentando levar nosso dinheiro.

Eu me lembro até hoje das propagandas do Biotônico Fontoura. Eles queriam ajudar as mamães a fazerem seus filhos terríveis comerem mais. Lembra da propaganda da bolachinha Passatempo? Ou da propaganda do Yakult, que nos fez aprender a dizer “Lactobacilos Vivos”? Lembra da Johnson’s nos aliviando com banhos que não ardiam os olhos?

Hoje, cada propaganda parece que está mais preocupada em vender do que em fazer um cliente. Não sei se estou conseguindo colocar em palavras, mas a sensação é de que todo marketing está desenhado para nos fazer sentir pobres se não compramos, burros se não entendemos, sozinhos se não queremos fazer parte e idiotas quando compramos da empresa A em vez da B.

Eu acho que tudo começou quando os artistas resolveram virar empresários e quando os empresários resolveram virar artistas, sem mencionar os que se tornaram famosos por entreter a gente e, do nada, começaram a empurrar produtos para todo mundo. Daí, comediantes usam terno e empresários usam regata e chinelos de dedo, ou pijamas.

Os blogueiros começaram a ficar mais influentes e ricos, e as propagandas, que antes eram elaboradas, tinham começo, meio e fim, e uma chamada para ação que mostrava que “Hey, pessoa com problema, eu resolvo seu problema e você pode ter mais felicidade”, agora gritam: “Hey, pessoa pobre, eu quero seu dinheiro e, se você me der, eu te ensino como fazer outros pobres te darem o dinheiro deles”, e isso aconteceu tão rápido que assusta.

Do outro lado, as pessoas que criavam conteúdo ensinando gatilhos mentais, chamadas para ação, storytelling, pilares da comunicação, prospecção, endomarketing, upsell, over delivery, estão ensinando como viralizar, como quebrar a internet, o vídeo viral do criador X, a marca da blogueira Y, as gafes desse e daquele outro.

Eu sou de outra geração. Eu decorava jingles. Eu cantava junto: “Quem disse que não dá? Na Finivest dá”, entre tantos outros. A sensação é de que eles cuidavam melhor da gente, sei lá. Falei sobre isso com alguns amigos criadores de conteúdo, e a maioria me disse que isso é reflexo da audiência, que, se não fizer conteúdos mais leves e tudo mais, a galera não consome, aí eles perdem espaço e, por consequência, vendas.

Existe ainda uma esperança. Estão chamando de “infotenimento”, uma junção de entrega de conteúdo com diversão. Gosto da ideia, tento ir nessa pegada. Inclusive, tive professores assim, que eram geniais, ensinando e divertindo, heróis, na minha opinião. Funciona, mas eu ainda penso: será que, em breve, não vai mais ter marketing de verdade?

Artigo escrito por:

Gustavo Aron – Fundador da StorLabs, comunidade dos Fazedores e membro do Clube BoraFazer

LinkedIn: Gustavo Aron StorLabs | LinkedIn

Instagram: Gustavo Aron (@storlabs.marketing)

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