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Rikuoh: uma série inspiradora para profissionais 40+

Em tempos de pressa e promessas fáceis, encontrar uma série que nos faça desacelerar,
respirar fundo e refletir sobre o que realmente importa na vida é um alívio. Foi exatamente isso
que senti ao assistir Rikuoh, uma série japonesa disponível na Netflix que, mais do que
entretenimento, é um convite à coragem de seguir sonhando, mesmo quando os calendários e
as estatísticas dizem que já passou da hora.
A história gira em torno de uma fábrica tradicional de tabi (aquelas meias japonesas com
divisão entre os dedos, normalmente usadas com sandálias tradicionais no Japão). A empresa,
comandada pelo Sr. Miyazawa, pertence à mesma família há mais de 100 anos. No entanto,
começa a enfrentar sérias dificuldades financeiras. Diante da iminente falência, o presidente
toma uma decisão ousada: parar de produzir o que sempre fizeram e investir em um novo
produto, um tênis de corrida de alta performance, inspirado na especialidade deles, o
tradicional tabi, mas com os olhos voltados para o futuro.
Mas a história não é sobre calçados… é sobre pessoas. É sobre legado, sobre a dor e a beleza
de ter um propósito e não medir esforços para realizá-lo. É também um exemplo de como a
experiência de vida nos capacita a fazer escolhas com mais sabedoria, menos ego, mais valor e
mais respeito.
Diferente de muitas séries de negócios que optam por reviravoltas dramáticas e discursos
motivacionais, Rikuoh escolhe o caminho da delicadeza. A força da série está na persistência
silenciosa dos personagens, nas pequenas vitórias do dia a dia e nas escolhas éticas feitas
longe dos holofotes.
A figura do presidente da empresa é especialmente tocante. Um homem que lidera com o
coração, com firmeza, mas também com vulnerabilidade. Ele erra, hesita, duvida. E mesmo
assim, continua. Em cada passo dele, reconhecemos a jornada de tantos empreendedores que
buscam manter um negócio vivo com fé, intuição e uma obstinação quase poética.
A verdade é que, com o passar dos anos, todos nós acumulamos histórias, tentativas, acertos,
fracassos e, muitas vezes, cansaço. Não é raro nos perguntarmos se ainda vale a pena tentar
algo novo. E a série Rikuoh oferece uma resposta serena e firme: sim. Mostra que a
maturidade é um solo fértil para ideias novas. Não pela ânsia de inovar, mas pelo desejo
profundo de realizar algo com sabedoria e propósito.
Ver personagens experientes tomando decisões corajosas e se permitindo sonhar de novo é
reconfortante. É um lembrete de que nosso tempo criativo não tem prazo de validade. E mais:
que inovar depois dos 40 é não só possível, como necessário.
Um ponto que me chamou muito a atenção ao longo da série foi o respeito rigoroso aos
processos de marca e patente. A forma como o tema é conduzido em cada etapa da
documentação, testes e garantias técnicas do produto mostra que ética e inovação caminham
lado a lado. Em um momento em que muitos negócios ignoram os trâmites legais em nome
da velocidade ou do lucro, Rikuoh nos lembra que proteger uma ideia e uma marca é também
respeitar os caminhos corretos, o que faz parte de um empreendedorismo ético, sustentável e
responsável.
Outro elemento profundamente humano da trama é a lealdade entre os personagens. A
relação de confiança entre o presidente da empresa e sua equipe, assim como o vínculo
construído com um jovem atleta que se envolve com o projeto, é marcada por respeito mútuo
e por uma sensação de honra que transcende contratos. Mesmo nos momentos mais difíceis,
todos permanecem firmes, unidos no mesmo propósito, não por obrigação, mas porque veem
valor e acreditam no poder do que estão construindo juntos. Essa conexão entre líderes,
liderados e parceiros é um lembrete valioso: quando há confiança, há potência coletiva.
A série também mostra, na prática, que uma empresa com uma cultura organizacional forte e
coerente é extremamente valiosa. O presidente, com humildade, não apenas ouve sua equipe
de colaboradores e parceiros, como valoriza as contribuições de cada um, criando um
ambiente seguro para que possam expressar livremente suas ideias e discordâncias. Em vez de
se deslumbrar com propostas tentadoras de grandes corporações ou com um crescimento
acelerado e desgovernado, ele se mantém fiel à essência do negócio, honrando seu propósito
e suas origens. Rikuoh nos lembra que existe outro caminho: mais orgânico, mais lento talvez,
mas infinitamente mais sustentável e justo no mundo dos negócios, um caminho que resgata o
orgulho das pessoas pelo que, juntas, são capazes de produzir.
Em uma época em que o sucesso é, muitas vezes, medido apenas por números e métricas
instantâneas, Rikuoh surpreende ao destacar algo muito mais valioso, especialmente para os
profissionais mais maduros: o capital humano, o compromisso com a palavra dada, o respeito
pelas raízes, o cuidado com as pessoas e a força de manter um legado, mesmo quando isso
significa perder no curto prazo. A série evidencia uma forma de empreender que coloca os
valores à frente do lucro. Que entende o sucesso como algo maior do que resultados
financeiros. Um modelo que dialoga profundamente com quem escolheu ter um negócio com
propósito, especialmente depois de uma bagagem de vida significativa.
Para concluir, gostaria de reforçar que eu particularmente amei essa série porque ela fala sobre
tudo aquilo em que mais acredito: que marcas valem muito, mas pessoas valem muito mais.
Como uma verdadeira entusiasta da força dos profissionais 40+, Rikuoh encheu meu coração
de alegria e inspiração. Por isso, recomendo esta obra a todos que acreditam no poder do
tempo, da escuta e do respeito ao outro. Ela nos lembra, com simplicidade e profundidade,
que os sonhos não têm idade. Que sonhar, inovar e criar com propósito são movimentos
possíveis em qualquer etapa da vida.

Artigo escrito por Ana Paula Moreno

Ana Paula Moreno é designer brasileira, apaixonada por dar vida às marcas. Acredita que marcas valem muito, mas pessoas valem muito mais. Formada em Artes Gráficas, graduada em Desenho Industrial e pós-graduada em Comunicação Empresarial, iniciou sua carreira como estagiária de Emilie Chamie, a primeira mulher designer do Brasil, e consolidou sua trajetória ao longo de 15 anos em uma multinacional de Design e Branding, onde ingressou como designer júnior e cresceu junto com a agência até se tornar líder e cofundadora da área de Branded Content da América Latina. Hoje, adaptada ao mundo officeless, compartilha sua visão de que o verdadeiro branding nasce no coração de cada empreendedor, criando projetos de branding de forma mais humanizada ao redor do mundo e ajudando pessoas a reconhecerem o valor real de suas histórias. É também embaixadora do Clube Bora Fazer, marca com a qual compartilha princípios de propósito, colaboração e inovação.

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